Aprenda a dizer “não” e pare de se sentir na obrigação de realizar tarefas que não deseja

Tatianelucheis
6 min readMar 23, 2022

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Mulher com as mãos cobrindo o rosto

Quantas vezes você já se sentiu na obrigação de fazer alguma coisa só para agradar alguém? Seja fazer um favor, atender um pedido ou mesmo para agradar uma pessoa querida. O fato é que muitas vezes dizemos “sim” quando queremos dizer “não”.

Mas por que é que essa palavrinha pode ser tão difícil de ser dita?

É sobre isso que conversaremos no artigo de hoje: por que é tão comum nos submetermos a situações ruins, quando um simples “não” nos pouparia muita energia, tempo e estresse? Continue a leitura e descubra alguns dos motivos que podem estar te travando.

Sempre reparo em como é comum as pessoas sentirem dificuldade de priorizar os próprios interesses e vontades e acabarem se rendendo a situações ruins que seriam evitadas com uma recusa. E por que tanta contradição? Por que aceitamos docilmente e ignoramos os sinais que nosso corpo e mente nos dão sobre aquilo?

Alguns dos principais motivos são:

Aceitação: desde muito novos, somos ensinados a aceitar e, por isso, queremos pertencer, queremos ser aceitos. Quem não deseja ser o amigo estimado, o filho querido, o colega de trabalho bem visto?;

Necessidade de querer agradar a todos: essa vontade de ser aceito pode nos conferir uma identidade de “pessoa boa”, sabe aquele amigo que faz tudo? Esse mesmo! O fato é que algumas pessoas, sem perceber, desagradam a si mesmas numa tentativa de agradar as outras;

Sentimento de rejeição: com medo de ser mal interpretado ou mesmo rejeitado, podemos acabar aceitando situações na tentativa de preservar nossos relacionamentos;

Querer ser prestativo: é muito bom ajudar os outros, e algumas pessoas se sentem realmente bem sendo prestativas. Mas até a solidariedade precisa de limites, caso você esteja sendo prejudicado no caminho;

Evitar conflitos: é comum que as pessoas se submetam e aceitem determinadas situações em nome de evitar conflitos com seus entes queridos, com medo de perder ou prejudicar seus relacionamentos;

Achar que o problema dos outros é mais importante do que suas próprias necessidades: aqui temos um alerta para questões de autoestima. Às vezes exageramos na dose de querer ser prestativo por reconhecermos os problemas que as outras pessoas passam, mas corremos o risco de esquecer ou não considerar nossas próprias questões.

Ao dizer “sim”, quando na verdade sua vontade é justamente a contrária, muitas pessoas se sujeitam a situações ruins e relacionamentos tóxicos, gerando uma série de prejuízos para si.

É muito comum que essas pessoas se sintam sobrecarregadas e frustradas. Pois tentam abraçar o mundo ao aceitar tudo e então não dão conta de fazer ou concluir tudo aquilo com o que se comprometeram.

É preciso entender a necessidade de estabelecer limites, que sejam saudáveis para si e para as relações, caso contrário, criamos e estimulamos relacionamentos abusivos que, com o passar do tempo, se tornam insustentáveis.

Para criar esses limites, você deve primeiro voltar-se para dentro e entender até onde você consegue aceitar e ajudar o outro sem se prejudicar. Uma pessoa que simplesmente aceita tudo, pode passar a ter dificuldade em reconhecer o que gosta ou não, o que lhe faz bem e o que lhe faz mal. Justamente por não ser seletiva, não filtrar suas demandas. É como se dependesse do outro para guiar e decidir sua própria vida.

A importância do Autoconhecimento:

Uma boa dose de autoconhecimento nos ajuda a entender nossas necessidades e desejos, além dos medos, inseguranças e necessidade de pertencimento, que podem estar dificultando a tomada de decisões.

Saber reconhecer e atender às próprias necessidades é algo que exige prática. Priorizar suas próprias vontades não é algo que acontece do dia para a noite. Praticar o autoconhecimento é essencial para entendermos nossas atitudes e a sincronia entre as reações do organismo e tudo aquilo que acontece em nossa vida. É praticar a autopercepção, entendendo o que se sente, pensa ou gosta.

Então, só para deixar bem claro: cuidar de si não é egoísmo, é ter amor próprio e saber se respeitar. Tão importante quanto cuidar de amigos e familiares, é saber cuidar de si. E isso não significa que você não se importe ou não se preocupe com as outras pessoas, quer dizer apenas que entende a importância de estar bem consigo mesmo para que possa então contribuir com o bem-estar de outras pessoas.

Exercer o autocuidado ajuda nesse processo e, com o tempo, você terá mais clareza e facilidade para identificar suas necessidades e limites.

Do mesmo modo que você consegue compreender suas necessidades, passa a conseguir identificar as necessidades das outras pessoas, então, por meio da prática do autoconhecimento, também desenvolverá mais empatia. E isto tende a trazer uma melhora significativa para os seus relacionamentos. Muito maior, inclusive, do que se você estivesse apenas aceitando todas as solicitações alheias sem nenhum tipo de filtro.

E quando o “não” deve ser dito?

Sempre que você perceber que será mais saudável a todos. É verdade que aprender a dizer “não” é um processo: no começo será difícil e incômodo, e nem sempre é fácil lidar com a reação da outra pessoa. Romper padrões de comportamento é um desafio. Mas, a longo prazo, você estará criando relacionamentos mais saudáveis e, principalmente, uma relação mais amorosa e respeitosa consigo mesmo, e assim todos saem ganhando.

Precisamos treinar o uso da palavra “não” para não abrirmos mão de nossa liberdade, tempo e interesses. Afinal, somos todos importantes e temos nossas próprias tarefas para realizar.

Em cada situação, reflita antes de responder “sim” ou “não”.

Para finalizar, listei a seguir algumas sugestões que podem te ajudar na construção deste novo hábito:

Pratique o autoconhecimento: como já foi dito, aprenda a reconhecer suas necessidades e ponderá-las com as demandas externas, assim será mais fácil estabelecer os seus limites;

Estabeleça limites e prioridades: não temos tempo para fazer tudo o que somos solicitados, por isso, é importante estabelecer prioridades e escolher a forma como usamos nosso tempo. E não se esqueça de que você deve ser sempre sua própria prioridade;

Seja claro e objetivo em suas decisões: você não precisa de justificar ou dar muitas explicações, mas seja claro sobre os motivos de não conseguir atender a uma solicitação, para que o outro entenda e respeite sua decisão;

Não se sinta culpado: lembre-se de que se priorizar não significa que você esteja sendo egoísta. Não se sinta mal quando precisar ou quiser negar um pedido. Faça escolhas assertivas sobre como usar sua energia e tempo;

Faça outra proposta: se você não puder ajudar ou fazer o que foi solicitado, pense se há outra maneira de ajudar, oferecendo uma solução ou caminho viável, assim poderá contribuir de outra forma, sem se comprometer;

Repasse a tarefa: caso você não consiga ajudar, mas conheça alguém que possa, indique o caminho, forneça um contato, enfim, ajude a pessoa a ter sua solicitação atendida por alguém que esteja disponível, uma vez que você não esteja naquele momento;

Peça um tempo: você não precisa aceitar na mesma hora. Se não estiver confortável com a situação, você pode pedir um tempo para pensar e assim elaborar uma lista de prós e contras, ou então pensar em uma alternativa que ajude a pessoa sem comprometer seu tempo e energia;

Repita: se a pessoa não entender ou insistir, repita o seu “não”. Não ceda apenas por pressão. Ceder é abrir mão da própria liberdade de escolha.

Qualquer que seja a sua agenda e seus compromissos, eles devem primeiramente ser respeitados por você, e só depois pelas outras pessoas. Se você não consegue se priorizar, não espere que ninguém faça isso por você.

Coloque as sugestões em prática na próxima vez que for solicitado a realizar algo que você não tem conhecimento, tempo ou vontade de fazer. Logo você verá o resultado dos seus “não”s convertidos em mais tempo e energia em suas próprias atividades.

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Tatianelucheis

Psicóloga, Redatora e Escritora 🖋 Uma leitora que não sai de casa sem ter pelo menos um livro como companhia 📚